terça-feira, 22 de agosto de 2017

Diário de Bordo - NAS LONJURAS DESTA TERRA

Sempre que posso dedico parte do tempo das minhas viagens em conhecer vilarejos remotos, acessíveis somente por estradas vicinais pouco movimentadas. Alguns deles oferecendo infraestrutura, como pequenos comércios e pousadas, outros sem qualquer tipo de recurso. 
Serra do Espinhaço, no Distrito de Pajeú, em Monte Azul
Em viagens pelo norte de Minas Gerais, deparei com comunidades que sofrem com a estiagem que se prolonga desde 2011 na região. Rios e córregos secaram, casas foram abandonadas e os moradores que insistem em ficar no seu torrão natal lutam pra sobreviver.
Mesmo neste ambiente inóspito consigo contemplar as belezas naturais da região, tais como montanhas que refletem a luz solar e exibindo um mosaico de cores conforme o astro rei muda sua posição no firmamento. 
Ver o prateado da Serra do Espinhaço tornar-se áurico ao entardecer nas margens da MGC 122, na região de Mato Verde, A serra de Monte Azul tornar-se cerúlea, justificando o nome do município.
Na região do rio Gurutuba, Entre os municípios de Gameleiras, Pai Pedro e Jaíba, o ambiente quase desértico revela algumas paisagens peculiares, cercada de mandacarus e alguma vegetação que ainda insiste em verdejar. 
Seriema sacia sua sede no tanque de água
em fazenda no Povoado de Água Branca
Estradas de terra recortam o terreno, atravessam leitos secos de rios e circundam vilarejos remotos, como os de Água Branca, Canudos e Jacu. A Calmaria do lugar é quebrada pelo canto de pássaros e pelo estridente som emitido pela Seriema e do territorial Quero-Quero. À noite o firmamento expõe suas miríades de estrelas e meteoritos que, vez por outra, riscam o céu noturno em espetáculo de encher os olhos e aguçar a imaginação do observador celeste. 



São por momentos assim que busco em minhas andanças, uma barraca montada em um lugar longínquo e o universo descortinado sobre minha cabeça.




terça-feira, 28 de março de 2017

DIÁRIO DE BORDO - RECORTES

Paisagens de Minas, Bahia, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal
Tédio e apatia são palavras que não deveriam estar no dicionário de um aventureiro. 
Vivendo dias sombrios e inacabáveis, dominados por sentimentos dicotômicos entre o ir e o ficar, absorto em divagações e devaneios ou saturado de ociosidade. Com destino incerto, sigo a procura de qualquer motivo que me salve deste desalento. Limitado a recordações, volto ao passado, revivendo momentos em que desfrutei da liberdade de ir e ir. A cada fotografia revista, o pensamento voava por montanhas, lagos, rios e litorais. Lembranças do amanhecer à beira do lago de Três Marias, da solidão a beira mar,do entardecer às margens do rio Paranaíba, na divisa de Minas com Goiás. Nas andanças desta vida, tive o prazer de enxergar bem mais do que asfalto e lonjuras,pois o vislumbre do lugar novo, das descobertas fascinava-me. Quando seguia só, debruava meus pensamentos nas paragens do caminho, na vista dos outeiros que circundavam vilarejos e cidades, a guardar no fundo d'alma os memoriais de minha vida.
A quietude me trateia, traz cansaço a minh'alma, tolhe-me e traz angústia. Até que passe de mim este turbilhão, entranho-me no passado, donde trago à tona os melhores momentos da minha jornada.



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

DIÁRIO DE BORDO - CAÇADORES DA CACHOEIRA PERDIDA

Paisagens de Onça do Pitangui, Minas Gerais
O dia começou assim, sem nada pra fazer. Aquela preguiça típica de quem está de férias e não se preocupa com horários. Do nada surge a ideia de sair pra algum lugar e espantar o tédio. Mas ir pra onde? O jeito foi abrir o Google Maps e criar um, dois, três roteiros de viagem para um dia incomum. A cada trajeto, centenas de quilômetros a percorrer, por caminhos já conhecidos e cidades outrora visitadas. Tomada a decisão por menor quilometragem a percorrer, partimos para o Circuito Verde Trilha dos Bandeirantes, para explorar a cachoeira da Serra dos Ferreira, próxima ao povoado de Capoeira Grande, no município de Onça do Pitangui. Empolgados com a ideia de um belo banho de cachoeira, seguimos por estradas vicinais que nos levaram a muitos lugares, exceto ao pretendido lugar de lazer. Em trechos sinuosos, por vezes íngremes, passamos por outros vilarejos na região do Rio do Peixe, visitamos áreas de mineração entremeio a paradas para colheita de mangas de diversos tipos e fotografias de paisagens e da fauna local. Quanto à cachoeira desistimos de encontrar, depois de seguir por uma trilha em meio à mata, num trecho de difícil acesso e sem nenhuma sinalização, já com o tempo ficando cada vez mais nublado no alto da colina.
Distrito de Capoeira Grande
Depois de muito sobe e desce de serras, seguimos viagem para o Pontal do Rio Pará, em sua confluência com o Rio São João, no município de Conceição do Pará, com intuito de fazer uma visita a um amigo. Lá ouvimos histórias sobre a inconfidência mineira, o caminho dos tropeiros e como eles reuniam as tropas num curral improvisado, com muros de pedras ainda existentes, próximos aos trilhos da antiga ferrovia que passava em direção à estação do Velho do Taipa. O dedo de prosa, regado a café, queijo e geleia de manga perdurou até ao romper da noite, quando o caminho de casa olvidava, sem contudo deixar de cumprido.

Circuito Entre Serras - Caminho do Ouro e Religioso da Estrada Real

Dizem que os objetivos é que nos inspiram a viver, Para outros viver é o objeto que inspira. Mergulhado neste segundo propósito, parte-se em busca de vivenciar as oportunidades que este viver oferece. 
Obcecado por natureza e por Minas Gerais, procurei um roteiro de viagem que envolvesse essas paixões. Com o mapa do tesouro nas mãos coloquei o pé, ou melhor, as rodas no caminho. O referido mapa, conseguido por acaso no centro de informação ao turista de Caeté, indica alguns lugares históricos do circuito entre Serras, que envolve as Serra da Piedade e do Caraça, passando por trechos da Estrada Real e do circuito religioso da ER. Uma iniciativa doa Associação Circuito do Ouro (http://circuitodoouro.tur.br), que tem como premiação um pencard com certificado digital para os aventureiros que completarem o roteiro, colocando os selos entregues nos locais visitados. 
Pôr do sol em Catas Altas
A maior parte do roteiro é feita por estrada de terra, o que torna a viagem especial para quem curte o modelo off road. Passar por vilarejos como Cocais, água limpa e Brumal, visitar cachoeiras, igrejas e monumentos históricos da região do Caraça e terminar a viagem na bucólica Catas Altas contemplando o pôr do sol, sentado na praça da Matriz, é uma sensação de regozijo que somente aqueles que tem alma libertária podem desfrutar.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Diário de Bordo - De Curvelo a Turmalina

Foi num dia destes qualquer, daqueles em que se junta as malas e sai por aí pra vivenciar outras paragens, que partimos rumo ao norte de Minas Gerais, passando pelo Vale do Jequitinhonha.

O destino, seguindo as vias normais, estava a 698 Km, contudo fizemos um desvio de 300 Km em nosso trajeto pra conhecer algumas cidades do vale encantado. Seguimos até Curvelo onde visitamos a basílica de São Geraldo, a Matriz de Santo Antônio e a antiga estação ferroviária. A parada do café foi na banquinha da esquina que servia pão de queijo, biscoito frito ou o combo pão de queijo com linguiça. 
De lá seguimos para Corinto, onde adentramos na LMG que segue em direção a Santo Hipólito, Monjolos e os distritos de Rodeador e Conselheiro Mata, já no Circuitos da ER e Serra do Cabral. Até Monjolos o asfalto cobre a estrada, depois o caminho segue por terra para a alegria dos amantes do off road. É um sobe serra, desce serra, entrecortada ora por mata, ora por pedras, em meio a vislumbrante paisagem da região. O próximo ponto de visita era o Distrito de Conselheiro Mata e suas cachoeiras, contudo o tempo chuvoso não convidava a um dia de aventura e seguimos rumo a Diamantina. 
Na terra de JK e Chica da Silva, o sol apareceu entre as nuvens e nos encorajou a visitar o Parque Estadual do Biribiri  onde paramos para admirar a cachoeira da Sentinela e a cachoeira dos cristais, cujas águas esculpem as formações rochosas da região. Após visitar a antiga fábrica de tecidos e o os casarões preservados no antigo vilarejo, seguimos em direção a Couto Magalhães de Minas e seus artesanatos. De lá até Turmalina a paisagem montanhosa enche os olhos e o Jequitinhonha sulca a terra criando o seu vale. Ao findar do dia estávamos no coração do vale encantado, lugar que inspira canções, poesias e arte rodeada pela hospitalidade do povo do "vau". 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Causos - Assombração no caminho dos diamantes

Há coisas que são difíceis de acreditar. Histórias contadas na infância por nossos avôs, que envolviam almas penadas, fantasmas e assombrações e nos enchiam de arrepios e medo de dormir sozinho. Todavia desta feita a coisa aconteceu comigo e minha esposa, enquanto percorríamos o Caminho dos Diamantes, na Estrada Real. 
Serra da Tapera
Depois de um dia inteiro de viagem, após sair de Itambé do Mato Dentro, passar Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro, onde visitamos os distritos de Córregos, Tapera, Dom Joaquim e Itapanhoacanga e seguimos em direção a Serro passando por Alvorada de Minas. Uma viagem feita em sua maioria por estrada de terra, seguindo o caminho dos diamantes, em direção à Diamantina. Um trajeto por paisagens vislumbrantes, entremeada de aventura, como na subida da serra de Santo Antônio do Norte até Dom Joaquim e a parada pra saborear um delicioso pão de queijo com café no Rancho Serrano em Serro.
Da cidade do queijo do serro seguimos em direção à terra de Dona Chica e JK, passando pelos distritos de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras. No lusco-fusco adentramos na "estrada assombrada" e seguíamos conversando sobre o cotidiano quando minha esposa viu uma luz ao longe e disse que um veículo se aproximava.
Igreja no Distrito de Vau
Contudo continuamos a viagem e o tal veículo não aparecia e ao aproximarmos de uma curva a misteriosa luz atravessou o nosso caminho e seguiu pela mata. Fiquei calado, como se nada tivesse ocorrido e o mesmo fez minha companheira de viagem. Um pouco mais à frente, próximo ao Distrito do Vau, outra figura fantasmagórica, vestida de um sobretudo e um chapéu preto pairava à beira do caminho e quando percebeu a aproximação do veículo, envolveu seu rosto na capa em sua vestimenta e desapareceu na escuridão que fazia naquele momento. Achei que este "fantasma" só eu tinha visto e meio cético, não contei pra minha esposa o acontecido, por achar que estava vendo "coisas" devido ao cansaço da viagem. Porém mais tarde, já na segurança do asfalto, longe do local das aparições, o assunto da segunda aparição surge, com o relato contado por minha mulher, que também viu o tal vulto. 

DIA DE FEIRA NO VALE


Feira livre de Turmalina

Domingo é dia de feira livre no Vale Encantado. Pessoas e coisas se misturam num aranzel e o aroma das especiarias enche o ambiente. No pequeno vão da feira são expostos frutos, farinhas, doces, animais, cachaças e grãos, negociados por pequenos produtores da região de onde retiram seu sustento.
O artesanato do vale também está presente em vasos de barro, miniaturas de pessoas, bichos e construções, enfileirados nas prateleiras, aguardando a visita de um turista ávido por souvenirs.

Arte na cerâmica
Na cidade de Turmalina, Maria da Ana, Orlinda e outras figuras disputam a atenção dos compradores oferecendo seus produtos, contando a origem das cerâmicas e a vida difícil que levam no sertão do Jequitinhonha.  
Entre os expositores está o produtor José Arlindo com sua banca de farinha de mandioca, polvilho e outros produtos oriundos de sua propriedade. Homem simples e muito falante, atrai a simpatia dos visitantes com seu modo de abordagem descontraído e cordial. Em meio a negociação de seus produtos, começa a relatar sua vida no campo e as agruras sofridas por causa de uma disputa de terreno na capital, na qual labuta a quase 20 anos. Pra ele, o "Val" é seu sossego, de onde não tem intenção de sair e que a propriedade em Belo Horizonte é a herança dos filhos.
Ao fim da visita ao mercado municipal, caixas com artesanato e sacolas com especiarias são levadas, junto às lembranças que ficam deste dia de feira.

Diário de Bordo - NAS LONJURAS DESTA TERRA

S empre que posso dedico parte do tempo das minhas viagens em conhecer vilarejos remotos, acessíveis somente por estradas vicinais pouco mo...