Dizem que lá pras bandas do norte, na barra do Pacuí, quando o Gorutuba encharcava a terra a caminho do São Francisco, o vale virava pântano,repleto de peixes, aves e até jacarés. Isto no tempo dos antigos, quando ainda havia força nas nuvens pra trazer chuva no sertão mineiro. Seu Quelé, homem da terra, descendente dos quilombolas remanescentes do vale do Gorutuba é quem conta as histórias, sentado em seu velho carro de boi, parado debaixo do umbuzeiro.
Seu Quelé contando histórias do Pacuí. |
Hoje em dia é raridade de acontecer, por causa das barragens pra conter o rio lá em Janaúba, Pai Pedro e Gameleiras. O Pacuí já não corre livre no seu leito em busca do Gorutuba. Pontes que antes viam o passar de suas águas, atravessam somente um corredor de areia e pó. As aves migratórias ainda fazem pouso no vale, mas o jacaré já não existe mais.
"Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se
forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..." (JOÃO GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão: Veredas p.28)
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